Do que o Conhecimento é feito?

Nos últimos anos o termo Ciência de Dados se popularizou bastante. Que fique muito claro de antemão: nada contra a ciência de dados! Muito pelo contrário, tudo a favor! Sou um grande entusiasta dessa incrível área da produção de conhecimento contemporânea.

No entanto, sinto que a intensa popularização do termo dá, muitas vezes, a sensação de que a Ciência é uma atividade quase que “monolítica” que simplesmente geraria conhecimento a partir de dados que passam por algoritmos, e pronto. Sei também que os cientistas de dados não defendem esse argumento.

E então, quando olhamos para a Ciência como um todo, podemos nos perguntar: o que a define? Do que o conhecimento é feito?

A utilização rigorosa e sistemática de MÉTODOS é um dos poucos consensos possíveis de se perceber entre as distintas disciplinas de metodologia & pesquisa que paguei durante os anos de graduando e mestrando, com diferentes professores de diferentes ciências, como a sociologia, a antropologia, a ciência política e também da filosofia.

Essas disciplinas e ciências distintas são bastante complementares, porém o debate sobre o que é conhecimento e como somos capazes de atingi-lo é forte no nível da teoria do conhecimento e da ciência. São perspectivas muito ímpares sobre a vida humana, mesmo que muito complementares quando começamos juntar as pontas.

Afinal, o que são métodos científicos?

Métodos científicos são caminhos trilhados com o auxílio de conjuntos de protocolos destinados à obtenção de novos conhecimentos ou à atualização de um corpus de conhecimento já existente.

Em suma, são caminhos considerados válidos por uma comunidade de pessoas (cientistas) para a reunião sistemática de evidências empíricas verificáveis e produção de explicações sobre fenômenos observados.

Para isso, realiza-se observações sistemáticas que culminam na produção de dados (registros úteis e legíveis) sobre qualquer fenômeno de interesse, em qualquer uma das diferentes dimensões da vida. Ou então, como no método dedutivo, lança-se mão de lógicas de raciocínio, como o silogismo.

A lógica em si é um componente fundamental de um bom método.

Como a Ciência não é uma atividade monolítica, mas sim plural, existem diferentes tipos de métodos científicos. E que bom que é assim, pois o mundo em si é muito diverso e plural, e para captar toda essa amplitude, nada melhor do que diferentes formas de se produzir conhecimento de maneira rigorosa e sistemática.

Dos diferentes tipos de método científico, segundo a filosofia da ciência, podemos destacar os mais conhecidos:

I. Método indutivo: conhecimento produzido a partir da observação de diferentes casos particulares que são abstraídos em explicações gerais.

II. Método dedutivo: conhecimento produzido a partir do raciocínio “puro”, parte-se de afirmações generalistas que são verificados em casos particulares.

III. Método dialético: conhecimento produzido a partir do contraste entre duas ideias contrárias. O conhecimento é o resultado desse contraste.

IV. Método fenomenológico: o fenômeno dado é a única coisa que existe, o conhecimento produzido a partir dessa perspectiva busca se afastar de leis, teorias e deduções.

A descrição e o entendimento do fenômeno em si é a fonte do conhecimento.

Em linhas gerais, e simplificando um pouco a coisa, métodos científicos seguem um fluxo que vai da observação à teoria e vice-versa. No meio desse caminho registramos (em dados) os fatos e acontecimentos da realidade. Os analisamos e produzimos então hipóteses testáveis e falseáveis que podem ou não tornarem-se uma teoria, e por teoria leia-se: explicação, sobre determinado tema ou fenômeno em questão.

Essa espécie de "ciclo" se repete e o conhecimento, assim, se renova quando novas hipóteses que contradizem ou complementam as teorias vigentes são testadas e compreendidas como verdadeiras, até que outras novas hipóteses surjam. Alimentando o ciclo: observação, hipótese, tese.

Os métodos, portanto, são os caminhos que nos permitem percorrermos com sistematicidade esse ciclo de produção de conhecimento, conferindo confiabilidade e inteligibilidade a esse processo contínuo de criação, validação e invalidação de hipóteses e teorias.

A ciência é, portanto, uma atividade viva e dinâmica. O que é verdade hoje pode não ser amanhã e vice-versa. E o conhecimento é atingido por diferentes caminhos, feito por uma composição entre métodos, lógica, observações e contraposições de ideias, explicações e perspectivas.